Quanto vale a dúvida?
Quanto vale a dúvida?
Por Lucas D. M. dos Santos
Oi, tudo bem?
Da minha parte, se você está lendo essas palavras, a resposta é sim, pois significa que atravessei minhas dúvidas para enviar o Lapso Trivial da semana.
Dúvida que é minha companhia mais antiga e segue ao meu lado diariamente. Não falo isso com qualquer orgulho intelectual, ou coisa do tipo. A dúvida é desconfortável, mesmo dolorosa. Nos últimos dias hesitei entre três temas para a newsletter e após não conseguir desenvolver nenhum deles, até considerei recauchutar um assunto antigo. Por fim decidi por abraçar a dúvida e falar um pouco desse sentimento que paralisa, mas também previne.
E que, sinceramente, vale mais do que qualquer certeza.
Não me entendam errado, eu sei que dois e dois são quatro e que de algumas coisas temos de estar certos. Não há nada além de cinismo na tentativa de relativizar quem zomba da morte de mais de 600.000 pessoas em meio à pandemia e faz pouco caso de execuções sumárias, como as de Genivaldo pela PRF ou de Dom Philips e Bruno Pereira, ainda a serem elucidadas.
Ao sujeito que governa nosso país, não tenha dúvidas, eu só reservo minhas piores certezas. E falo com uma tranquilidade incomum aos que duvidam: Qualquer “escolha muito difícil” em relação e ele me soa como nada além covardia.
Dito isso, quanto à maior parte das coisas permaneço aberto, em dúvida
Embora compreenda a pressão pela certeza. Chegamos ao fim do Éden, a era digital colocou o fruto proibido do conhecimento em nossos bolsos e com ele não podemos mais suportar a nudez das nossas dúvidas. As redes sociais, vendidas como ágoras do nosso tempo, mais parecem arenas romanas, em que vestimos nossas verdades e nos digladiamos com certezas em punho. Geramos atrito e até ferimos uns aos outros. Como prêmio, a ilusão da vitória, antes de sermos atirados aos leões em troca de mais engajamento, o néctar que alimenta os deuses do Olimpo digital, únicos favorecidos por essa lógica.
A dúvida faz o caminho contrário, pois é uma forma de empatia. Entender seu impacto na existência alheia, antes de atingir. Compreender o caminho que forma a perspectiva do outro, para avaliar sua própria, mesmo que por fim a considere errada.
Ter dúvidas não é se omitir ou deixar de se posicionar, mas encarar de peito aberto suas certezas tanto quanto as alheias. Pois se quisermos, de alguma forma, recuperar parte dos 30% que ainda apoiam um governo assassino, mais do que bombardeá-los com verdade, devemos plantar neles alguma dúvida. Uma planta frágil, porém, capaz de brotar no concreto. Certezas são barragens, mas a dúvida é água. E a água, como disse Bruce Lee, sempre encontra seu caminho, desvia de obstáculos, penetra pelas frestas e em seu tempo atravessa obstáculos até os romper.
Dúvida é movimento, alternância, vibração. É o ruído entre as estações de rádio, a transição entre inverno e verão, o espaço entre o dia e a noite, pronto a ser percorrido pelo sol. É expor sua fraqueza para encontrar nela a própria força.
Dúvida é todo o caminho, certeza é só a chegada. Não a toa, dizem, a única que temos é a morte.
Termino esse texto do jeito que comecei, em dúvida. Mas ciente de que esse é o preço que se paga para estar em movimento e hoje, ao invés de lamentar, prefiro celebrar.
E antes que eu me despeça: Caso o Lapso Trivial seja útil e/ou interessante para você, indique a um amigo e ajuda a trazer mais gente para a conversa!
Agora sim, até semana que vem!
Concorda, discorda, acha que só falei besteira? Responde aí e me conta, ou indique para alguém!
Como em toda conversa, quanto mais gente
mais barulho e caos melhor!
Em todo caso, obrigado pela leitura!
Você também me encontra no Twitter e no Instagram
Caso você tenha chegado até aqui e ainda não é cadastrado, inscreva-se na newsletter!
P.S.: Leia as edições anteriores de Lapso Trivial